Introdução

A inclusão digital que começou na metade final da década de 90 provocou uma democratização no acesso à informação através da internet. Dados e informações que antes pertenciam à uma parcela exclusiva da sociedade, passaram a ser acessados pelos mais diversos níveis sociais. Nesse novo contexto, a Internet possibilitou tanto o intercâmbio de conhecimento e informação, quanto a divisão entre os grupos detentores de informação e os que sentem a escassez dela. Um exemplo claro deste câmbio informacional é a criação de comunidades virtuais, com economia e cultura própria, não existindo fronteiras para o compartilhamento de conhecimento e para a cooperação e exercício desses conhecimentos (ROESLER, 2005).

O Reddit é visualmente mais amigável para novos usuários, tem uma taxonomia bem definida com seus tópicos (fóruns) e subtópicos (sub-fóruns) sendo criados de forma democrática. Já o 4chan é categorizado como imageboard, onde obrigatoriamente todos os seus usuários são anônimos e, na maioria dos casos os tópicos são iniciados com imagens, com seus usuários comentando a respeito do assunto, e denominam isso de threads. Nesses fóruns são encontradas diversas comunidades que mais fomentam debates e geram conteúdo sobre diversos assuntos na rede.

Não se sabe ao certo em qual comunidade se originou a discussão sobre a moeda virtual Bitcoin, por se tratar de um assunto da parte mais obscura da internet, não existem fontes confiáveis o suficiente para afirmar sua origem. Segundo algumas fontes, o Bitcoin teria surgido numa lista de e-mails voltada a criptografia em 2008 (GENESIS MINING, 2018). A proposta inicial, descrita no artigo de anúncio foi de uma moeda virtual baseada em rede ponto-a-ponto que recompensa pessoas que fornecem processamento de suas máquinas para resolução de algoritmos matemáticos (NAKAMOTO, 2008). Naquele momento, a discussão sobre uma tecnologia robusta que tratasse de moedas virtuais era não só incipiente como desnecessária, já que não havia nenhum indício de que essa tecnologia teria alguma finalidade.

Em se tratando de moedas virtuais, o Banco Central Europeu (2012) as categoriza como um tipo de ativo digital que não necessita de regulamentação de governo e sua distribuição é exclusivamente controlada por seus desenvolvedores, que a disponibilizam em alguma comunidade virtual específica. Esse conceito começou a ser aplicado em jogos eletrônicos de grande quantidade de jogadores, os MMORPG (Massive Multiplayer Role Playing Games), onde cada jogo possui sua moeda que poderia ser comprada a partir do uso de dinheiro real. A forma de circulação deste tipo de moeda era baseada na necessidade de cada jogador, que precisava interagir com outros jogadores, a fim de realizar troca de itens do jogo pela moeda virtual. A partir do momento que estes jogos começaram a se tornar populares, surgiram pessoas que realizavam o câmbio entre moedas virtuais do jogo e moedas fiduciárias reais.

Além das moedas virtuais, existem também as moedas digitais, definidas como moedas que não têm restrição de comunidade, ou seja, podem ser aceitas por qualquer entidade, seja pessoa física ou jurídica. Ainda segundo o Banco Central Europeu, uma moeda digital é a representação eletrônica de uma moeda tradicional, porém, sem os trâmites legais, podendo uso. Os exemplos mais comuns dessas moedas digitais são as unidades monetárias de milhagem de cartão de crédito ou de pontos em supermercados.

Ainda dentro do âmbito das moedas virtuais, se destacam as criptomoedas. Elas têm as mesmas características das moedas virtuais, com a diferença de serem descentralizadas, isto é, as transações da moeda estão dentro de uma rede e cada ponto desta rede contém todas as informações de todas as transações da história daquela moeda. A princípio parece um conceito que oferece vulnerabilidade, porém, ao observarmos uma das tecnologias por trás disso, o BlockChain, se percebe a complexidade do sistema.

Segundo Aadhi (2017), a tecnologia blockchain permite que cada transação seja validada por todos os pontos da rede, criando uma malha de confiança unilateral, ou seja, para que a rede BlockChain seja burlada, seria necessário “hackear” a maioria dos computadores da rede e simultaneamente passar um código de transação falsa para todos eles. Esse cenário só seria possível se o computador invasor possuísse uma capacidade de processamento muito maior, destaca-se aqui o advérbio de intensidade muito, do que todos os computadores pertencentes a redes juntos, e aqui destaca-se o todos. Isto é hoje uma realidade distante visto que existem bilhões de computadores ligados a rede BlockChain.

Com a popularização das criptomoedas, o Bitcoin atingiu níveis significativos de valorização. Segundo dados do Coin Market Cap (2018), em julho de 2013, a moeda valia 91 dólares, enquanto que na cotação datada de 29 de abril de 2018 aponta o Bitcoin valendo 9,278.50 dólares. Tal valorização despertou a atenção de investidores do ramo de câmbio entre moedas estrangeiras (Forex), aumentando ainda mais a procura da moeda. Considerando o aspecto de uso social, o Bitcoin torna-se um marco, pois, é mais um aspecto em que o mundo real e o mundo virtual estão conectados. Já que até então, o mais próximo de participação de usuários em programas moedas virtuais que havia registro eram programas de fidelidade e milhas de cartão de crédito.

Esse novo perfil de investidor que migrou do mercado das moedas tradicionais, chamado de Forex, para o mercado de moedas virtuais, acaba destoando dos players atuais, por estes já trabalharem com estratégias de negociação bem definidas e consolidadas (GUIA DO BITCOIN, 2017)., mas, o Bitcoin já se mostrou contrário a algumas tendências de mercado por ser movimentado por tipos de negociadores distintos encontrados no mercado financeiro. Essa distinção pode ser explicada pela facilidade que o Bitcoin oferece para novos compradores. Investir, hoje, no mercado de moedas estrangeiras requer um poder aquisitivo considerável, o que torna esse investimento disponível para poucos na sociedade (G1, 2018).

A Gestão da Informação em si, como área de estudo, fornece ferramentas suficientes para propor uma metodologia de Análise de Decisão pautada em aspectos econômicos e técnicos, para tanto é necessário compreender quais as principais fontes de interferência interna e externa no preço das criptomoedas e quais as principais estratégias de análise de compra e venda de criptomoedas. Desta forma, é possível direcionar estas ferramentas com a finalidade de identificar como são formados os movimentos padrões no mercado de criptomoedas e mapear o fluxo especulativo da principal criptomoeda existente hoje, o Bitcoin.

Foi identificado que existem pouquíssimos trabalhos em português relacionados a investimentos automatizados em criptomoedas, principalmente quando tratamos da perspectiva da Ciência da Informação, onde a produção neste tema é quase nula. Esse trabalho também foi motivado pela afinidade que os autores têm com a área de tecnologia e o desejo de ambos de mesclar conhecimentos de tecnologia, economia para aplicação prática em Gestão da Informação. Durante o decorrer deste trabalho, nós abordaremos um breve histórico do Bitcoin e a motivação por trás de sua criação, bem como o contexto social por trás disto. Em seguida, contextualizaremos, na fundamentação teórica, os assuntos de estudo de eventos, fluxo especulativo e tomada de decisão, buscando unir estes conceitos, que são de outra área, e utilizá-los a fim de obter uma interpretação analítica do preço do Bitcoin. Logo após isso, estará disposta a metodologia deste trabalho, bem como a especificação da natureza do mesmo. Após isso, no capítulo 4, apresentaremos os resultados desta metodologia aplicadas ao recorte de junho/2017. Por fim, no último capítulo, as considerações finais deste trabalho, salientando as justificativa e ressaltando os resultados do trabalho, bem como, as indicações para trabalhos futuros.

Diante disso, o objetivo deste trabalho é compreender o fluxo especulativo da criptomoeda Bitcoin ao se analisar o preço da moeda, negociado durante junho de 2017, averiguando a hipótese do impacto de notícias sobre o preço do Bitcoin. Fazendo uso de ferramentas da Gestão da Informação (fluxos informacionais e coleta, tratamento e análise de dados) para validar uma nova interpretação analítica da metodologia do estudo de eventos. Esta interpretação foi baseada nos conceitos gerais do estudo de eventos, mesclada com o conhecimento tácito adquirido via entrevistas informais com traders do mercado de criptomoedas. Essas entrevistas foram realizadas com o objetivo de averiguar a realidade do aspecto teórico desta pesquisa, uma vez que, por se tratar de um assunto muito novo, existe pouco material sobre o assunto, inviabilizando um referencial teórico maior.

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